País do futuro

(Publicado pelo Instituto Millenium)

Parece que após décadas como “o país do futuro”, o Brasil está prestes a deixar o título que, para muitos, era motivo de grande orgulho. Infelizmente para os otimistas, deixamos de ser o país do futuro não por ter crescido, mas pela sequência de decepções que nossa economia tem garantido aos que apostaram em nosso desenvolvimento.

É difícil precisar quando o sonho se transformou em pesadelo. Uma das hipóteses indica que a “marolinha” de Lula, ainda em 2008, estaria relacionada não ao impacto da crise, mas ao comportamento que nossa economia assumiria. Desde então, além do crescimento pífio, colecionamos uma série de notícias na mídia internacional reportando as trapalhadas de nossa equipe econômica (essencialmente do jornal Financial Times e da revista The Economist).

O grande problema é que, com o passar do tempo, o descrédito demonstra não ser apenas uma fase, mas uma tendência longe de chegar ao fim. A quebra de Eike Batista, empresário-exemplo, levou consigo a credibilidade do governo brasileiro, o qual não só financiou sua ascensão como utilizava sua imagem para demonstrar o mar de possibilidades de nosso mercado. Além disso, os protestos contra a corrupção excessiva e a ineficiência do Estado em gerir os projetos da Copa do Mundo têm transformado o potencial do evento em uma grande piada. Prova disto está no New York Times desta semana que ironiza a tentativa brasileira de se preparar para o boom turístico sem conseguir, ao menos, traduzir uma placa de trânsito sem cometer erros graves.

É difícil ter algum otimismo neste cenário. Ainda assim, nem tudo está perdido. Como se diz que o primeiro passo para a cura é reconhecer a doença, o ministro Guido Mantega deu sinais de que compartilha, pelo menos em parte, da visão internacional sobre o momento em que o país vive. Cabe rever seu posicionamento, principalmente aquele apresentado em coletivas com a imprensa. Como já afirmei anteriormente, apresentar metas ousadas para, logo após, assumir sua impossibilidade, acaba sendo mais prejudicial do que benéfico. Ainda que o ganho imediato seja notório, a perda de credibilidade pode ser sem volta. Eike que o diga.

Nossos agentes econômicos devem entender que o mercado não é tão bobo quanto o eleitorado. Sua memória não é curta e os investimentos não chegam por benevolência ou altruísmo. Investe-se em uma economia com credibilidade, que gera retorno e cujos lucros superam os riscos. Visto a ineficiência endêmica de nossos gestores públicos e seus planos econômicos, cada vez mais passo a concordar com o que Diogo Mainardi escreveu para a Veja ainda em 2004: “com menos direitos para os trabalhadores, menos impostos, menos investimentos públicos e menos programas sociais, o Brasil finalmente conseguiria chegar ao século XVIII. Uns trinta anos de capitalismo selvagem poderiam bastar. Uns trinta anos de Adam Smith”. Quem sabe a partir daí poderíamos retomar pelo menos o rótulo de “país do futuro”.

Brasil deve planejar economia a longo prazo para crescer

O PIB cresceu 0,4% no segundo trimestre desse ano, na comparação com o primeiro, e 0,5% em relação ao mesmo período de 2011

Mariana Branco da Agência Brasil (republicado pela Revista EXAME)

Para sustentar nível satisfatório de crescimento, o Brasil precisa realizar mudanças na economia que se sustentem a longo prazo. A avaliação é do economista João Victor Guedes. Para ele, o governo está focado em bons resultados no curto prazo e toma medidas imediatistas.

Por esse motivo, diz, o país cresce a taxas abaixo dos demais membros do grupo Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), formado por países cujas economias estão em ascensão.

O economista faz parte do Instituto Milenium, uma organização da sociedade civil formada por intelectuais, empresários e acadêmicos para estudar a economia e os valores da sociedade brasileira.

João Victor Guedes avaliou o crescimento da economia brasileia porque o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado trimestral do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.

O PIB cresceu 0,4% no segundo trimestre desse ano, na comparação com o primeiro, e 0,5% em relação ao mesmo período de 2011. No semestre, houve variação positiva de 0,6% e, no acumulado de 12 meses, a economia cresceu 1,2%. Em valores correntes, a soma das riquezas do Brasil ficou em R$ 1,1 trilhão no segundo trimestre de 2012.

O economista destaca que o crescimento trimestral do PIB foi sustentado principalmente pela agropecuária, que avançou 4,9% frente aos primeiros três meses do ano.

Ele ressalta que a atividade vai bem em função das exportações, sustentadas pela desvalorização cambial promovida pelo governo e pela queda da produção em outros países – principalmente os Estados Unidos, que enfrentam uma seca – e a consequente alta no preço.

Guedes chama a atenção para a natureza temporária de políticas nacionais de estímulo ao consumo, como a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide sobre carros, móveis e artigos da chamada linha branca.

“O Brasil precisa fazer reformas perenes, que o preparem para o crescimento que quer ter. A primeira e mais importante seria a reforma tributária, com uma carga [de impostos] que não seja punitiva para o produtor e para o próprio trabalhador. Isso traria um aumento natural do consumo”, analisa.

Para o economista Roberto Piscitelli, professor da Universidade de Brasília (UnB), a meta de crescimento para 2012 anunciada pelo Ministério da Fazenda de 4,5% está “fora da realidade”.

Ele acredita que a variação do PIB ficará abaixo da projeção mais modesta do Banco Central, de 2,7%. “Considerando que no primeiro semestre [o PIB] cresceu 0,6%, acredito que a gente corra o risco de crescer menos de 2% no ano”, opinou.

Para Piscitelli, os números mais preocupantes referem-se à indústria, que registrou queda de 2,5% no segundo trimestre de 2012 na comparação com o primeiro.

“Há um processo de queda continuada. O que ainda está sustentando o aumento do PIB é a alta do consumo, mas esse é outro dado que preocupa. O investimento e o consumo governamentais estão chegando ao seu limite. Está-se falando muito em recuperação e em retomada [da economia aquecida], mas o cenário não está muito claro”, avalia.