Barcos e bicicletas

(Publicado pelo Correio do Povo em 15/02/2012 – Versão mais longa no Instituto Liberdade e AGAFISP)

Ano após ano, o trânsito que domina as principais estradas do país no período carnavalesco acaba por trazer à tona o quão ineficiente e caótica é a estrutura de transportes do Brasil. Seja por mar, terra ou ar, o brasileiro que decide viajar tem de se planejar muito bem para fazer a diversão de sua viagem compensar o estresse que invariavelmente passará ao tentar chegar ao seu destino.

Ao se analisar o que acontece pelo mundo, no entanto, percebe-se que a deficiência brasileira não reside na falta de ideias inovadoras, mas na aversão a seguir o que já deu certo em nações mais avançadas.

O primeiro passo para sanar tal problemática foi dado com a privatização de alguns dos principais aeroportos do país. O resultado tem sido menos caos e mais conforto para passageiros. Falta ainda uma reforma mais profunda no sistema aéreo, afinal, se é possível cruzar da Espanha ao Marrocos pagando apenas R$ 92,00 por que o valor da ponte Rio-São Paulo não poderia ser ainda menor?

A resposta para a questão esbarra na política. Conhecido por se tratar de um mercado oligopolista, o competido nicho das empresas aéreas detém um poder de lobby que consegue manter uma carga burocrática grande o suficiente para impedir que novos players se aventurem no mercado brasileiro. Com isso, a máxima econômica não falha: se a demanda é alta e a oferta é restrita, não existe forma de fazer os preços caírem.

Igualmente ocorre nas rodoviárias. Mesmo estando lotadas sempre que um feriado prolongado surge, raras são as linhas intermunicipais compartilhadas por mais de uma empresa. Sob a justificativa de que não seria viável operar em concorrência, o lobby do segmento faz com que licitações de linhas terrestres se restrinjam sempre a uma única empresa que, detendo o monopólio, tem o poder de oferecer serviços de péssima qualidade a preços acima da realidade.

Esse, dizem elas, é resultado das péssimas condições de nossas estradas que não têm avançado o suficiente em nenhum dos estados onde é mantido o controle público sobre as mesmas. Mais uma vez a solução está mais evidente do que parece: com a privatização de diversas rodovias, percebeu-se que acabar com os buracos, além de não custar nada aos cofres públicos, pode garantir o fim de alguns gargalos por onde o dinheiro público costumava desaparecer sem maiores explicações.

Cabe, no entanto, seriedade de nossos governantes tanto na hora de realizar os processos de concessão como no tocante ao cálculo de um novo IPVA que, por exemplo, permita a dedução de parte dos valores gastos com pedágios.

Nessa realidade, nosso papel é não cair no conformismo e utilizar a mídia e as urnas para promover mudanças. Do contrário, não nos restará outra opção, se não investir em barcos e bicicletas.